“Mindjeris” guineenses no caminho para a transformação
5 de Fevereiro de 2022 por Aline Flor
O P2 acompanhou quatro declarações de abandono das práticas nefastas e conversou com mulheres e activistas em Bissau sobre o que mudou e o que falta mudar para acabar com a mutilação genital feminina e outras práticas contra meninas e mulheres.
O som dos batuques marca o ambiente de festa para receber os convidados. À nossa volta, um enxame de crianças vem espreitar a comitiva que chega. Ao fundo, dezenas de mulheres de sorriso no rosto envergam T-shirts com a mesma frase nas costas: “Os direitos humanos não têm fronteiras.”
Estamos no bairro de Bissaque, antigo bastião da mutilação genital feminina em Bissau, capital da Guiné-Bissau. Era aqui um dos principais lugares onde, todos os anos, dezenas de famílias levavam as suas meninas para o fanado, nome crioulo para o ritual de iniciação que também envolvia o corte dos genitais. Agora, no mesmo local onde há anos ficavam as barracas das fanatecas — as excisadoras que executam o corte —, entramos num campo de futebol. De um lado, uma lona diz: “Fanadu di mindjer i crime na Guiné-Bissau”; do outro: “A tua filha pode ser até Presidente da República se for dada oportunidade de ir à escola e de ter uma formação.”